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Acolhendo a gestante em todas as suas vertentes


Tudo que você precisa saber sobre relacionamentos e família na gestação

Camila Gray/UOL
Imagem: Camila Gray/UOL

Beatriz Zogaib

06/06/2024 17h48

Juntamos todas as dicas de relacionamentos e família que aparecem nas newsletters de Materna neste texto, assim você consegue tirar suas dúvidas de forma simples, completa e organizada.

Relacionamento: discutindo com o par

Discutir mais com o par é comum nessa fase e um convite para o casal se entender melhor e ajustar as engrenagens da relação, antes mesmo de dar as boas-vindas ao novo integrante da família. A gente sabe, nem sempre ele ou ela está entendendo o que já está acontecendo aí dentro e ao redor (entre mudanças internas e preparativos externos desde as primeiras semanas), mas você pode e deve conversar sobre. "A maternidade é um trabalho invisível, diferente do convencional: no trabalho reprodutivo, você entregou um projeto hoje, amanhã tem outro, e mais outro. Geralmente, o trabalho da maternidade é nomeado de amor, só que ele é feito com amor, mas é trabalho. O companheiro precisa entender que é exaustivo e a mulher pode buscar ajuda do parceiro, mas é necessário uma abertura dele", analisa a psicóloga existencial e filósofa Maria Silvia Logatti. Pois é, o par pode não estar disposto a ouvir ou a entender que precisa compreender e participar mais e, aí, como não se desgastar tentando conscientizar o outro das suas necessidades?

"Acho que não seja possível não se desgastar, talvez em uma sociedade futura, porque o machismo é estrutural, então o desgaste vai acontecer. O único caminho para conseguir trazer essa pessoa para perto é a partir de um lugar de vulnerabilidade", explica a neuropedagoga, educadora parental e escritora Maya Eigenmann. Você pode tentar por exemplo dizer algo como "Amor, está difícil pra mim? está muito cansativo, como está para você? Você também se sente assim?". Pode ser difícil, porque o ideal seria que o par tivesse a percepção sozinho, mas é preciso lembrar que nem todo mundo foi elucidado antes e que essa pode ser a porta para uma descoberta, uma aventura, que a chegada da criança é um portal de autoconhecimento e pode ser o gatilho para mudanças de comportamento para quem está ao redor.

Algumas dicas para ajudar nesse processo:

  • Comece desde já a traçar em dupla um plano de ação para lidar com toda a gestação e o puerpério; é benéfico investir em terceirização de serviços ou divisão de tarefas desde o primeiro momento.
  • Vocês podem optar por uma terapia "profilática", para se organizarem emocionalmente antes do nascimento. Pra quem não tem condições de pagar, a sugestão é não subestimar o poder de conversas acolhedoras com amigos e familiares, pessoas que escutem ambos
  • Grupos de apoio também podem funcionar (como cursos para futuros pais e mães) ou aumentar a convivência com pessoas que estão vivendo a mesma situação.
  • Leituras (como livros para casais gestantes ou como esse material aqui!) podem ajudar; faça em dupla ou peça para o par ler.

Terapeuta responde: contar ou não para a família? E quando contar nas redes sociais?

  • Preciso esperar 12 semanas?

Não necessariamente. Esse tempo de espera para "dar a notícia" acabou se tornando comum pelo período em que é mais comum passar por uma perda gestacional. E aí, vai de você mesma entender se gostaria de ter apoio da sua família, ou até mesmo de amigas(os), nesse comecinho, seja na alegria ou na tristeza - caso ela ocorra. "Quem é você? Como você gosta de viver as questões da sua intimidade? Compartilhando com os outros ou sozinha? Quem é a sua família? Pessoas que vão trazer acolhimento ou comentários indesejados?", sugere como reflexão a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti. Ou seja, escolha contar se para você for confortável ou gostoso dividir com essas pessoas o que você está vivendo e pode viver nas próximas semanas, levando em conta o ambiente em que está inserida e se respeitando em primeiro lugar. Algumas mulheres podem se sentir sozinhas ao não compartilhar, outras se sentem invadidas com a expectativa dos outros.

  • É a mesma coisa no on-line?

Não, ou depende. Sua conta nas redes sociais é pública ou privada? Quem te segue? Amigos íntimos e familiares, pessoas do trabalho, colegas com quem estudou anos atrás? Como se sentiria se essas pessoas soubessem da sua gestação desde já? Leve em conta como você gosta de viver experiências pessoais: sozinha, com pouca gente sabendo delas ou sem filtro? Segundo a terapeuta integrativa Michelle Occiuzzi, especialista em comportamento materno, contar sobre a gestação nas redes sociais é simplesmente expor socialmente a notícia. "É natural compartilhar com o parceiro antes de tudo, que é a única pessoa que precisa saber de fato, e depois com a família, mas tem mulheres que se sentem confortáveis em lidar coletivamente tanto com a alegria quanto com a frustração, caso o feto não se desenvolva. A questão é como é para você?." Michelle lembra que a perda gestacional pode não acontecer, ou acontecer em qualquer momento, tanto da gravidez quanto da vida, e que você não deixará de ser mãe. Tanto que você pode se ver começando movimentos que te colocam no lugar de maternidade desde o primeiro instante, seja se inscrevendo em um site para gestantes quanto em um grupo de descontos para mães - e você pode precisar se desinscrever, assim como teria que dar a notícia para mais gente. A diferença é a amplitude da exposição: como, quanto e onde se sente melhor vivendo essa maternidade?

Será que sirvo pra ser mãe?

"Depende do que você enxerga o que é servir. O que seria suficiente para você dentro dessa função? Concorda que é uma pergunta que tem um medo por trás? Qual o medo que você sente? Qual a carga que sente?", provoca a terapeuta integrativa Michelle Occiuzzi, especialista em comportamento materno. Uma dica é tentar entender se você tem dúvida ou se é medo. "Se existe dúvida, talvez você precise trabalhar isso internamente para essa questão não pesar em você depois. É importante trabalhar a dúvida, mas se você tem só medo, está tudo bem, é normal ter medo." Uma das formas de lidar com o medo é compreender que essa função, apesar de nos dar a sensação de ser eterna, não é - no sentido de que ser mãe acaba sendo muito mais sobre preparar um novo ser para que ele não precise de nós do que ter alguém dependendo de você para o resto da vida. "Se entendermos que essa função é temporária, tudo fica mais leve", diz Michelle.

Compreender que não precisa e nem deve estar sozinha é fundamental. "De forma prática, olhe ao redor e pense em quem você confia. Comece a conversar com essas pessoas que poderiam te ajudar e como você acha que precisaria dessa ajuda. "Muitas vezes, o que vamos precisar vai ser colo, disponibilidade de alguém escutar", observa Maya Eigenmann, especialista em Educação Positiva e acostumada a ajudar mães e pais na jornada de criação de filhos. Esse processo ajuda muito a tirar o peso que você pode estar sentindo ao se questionar sobre a maternidade, e ter clareza de que sozinha ninguém dá conta é um divisor de águas. É cruel exigir isso de qualquer mulher, incluindo você!

Outra dica valiosa é buscar uma rede de apoio que possa ser acolhedora e trazer tranquilidade, diferente de uma que traga mais ansiedade ainda: um dos primeiros aprendizados é entender e aceitar que nem todo mundo pode ajudar, mas que sempre tem pessoas que estão dispostas e são capazes de nos oferecer a ajuda que precisamos. "Nas primeiras 48 horas da vida do bebê você já sente o que é ser mãe, não dá para procrastinar as urgências e necessidades dele, então como amenizar? Tendo uma rede de apoio e conversando com quem já viveu isso e que possa te tranquilizar", afirma outra especialista, a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti, que ainda nos lembra da possibilidade de contar com um profissional que possa te ajudar com dúvidas e ansiedades, caso sinta que é algo muito forte e que anda incomodando.

O que fazer quando a família quer se meter? Como colocar limite e focar no que eu quero?

Em primeiro lugar, tenha claro que, muitas vezes, a ajuda que você vai precisar com a maternidade vem junto com palpites e interferências. "A família pode ser uma excelente rede de apoio, pode facilitar e acolher esse momento tão especial. Pode ser. Mas, exatamente por estar muito perto, pode ser também bastante ansiogênica. Pode causar conflitos e aí é necessário cobrar respeito e impor limites", observa a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti. Você e seu parceiro de maternidade precisam saber o que querem, sabendo que não precisam se sentir mal em ter que colocar algumas regras na relação com familiares nesse momento.

Muitas vezes, confundimos o ato de impor limites com aquela velha máxima de "desrespeitar os mais velhos". Ou nos sentimos culpadas por reclamar de algo, sendo que estamos recebendo ajuda. Paremos. "É preciso ter claro que existe uma grande diferença entre impor limites e desrespeitar". Se sua família está sendo invasiva, converse, explique, dialogue. Nem sempre é fácil, mas conversas difíceis podem ser necessárias - e podem ser também menos complicadas do que imaginamos.

E se está faltando impulso para impor essas barreiras para não invadirem seu espaço materno sagrado de cada dia, aqui vai ele: é melhor começar agora, enquanto está grávida e tem o olhar voltado para suas necessidades, pois o pós-parto costuma ser um momento de maior sensibilidade e, infelizmente, de palpites. "A mãe puérpera não tem que convencer familiares que não está na hora de visitar, ela não precisa, além de toda a preocupação com o recém-nascido, se preocupar com adultos", pontua Maya Eigenmann, expert em Educação Positiva. Converse com o pai do bebê (ou a pessoa que está nesse papel dentro da sua dinâmica familiar) sobre como ele pode ajudar nessa tarefa, porque o ideal é que ele assuma essa função quando você estiver focada nos cuidados com o filhote. Segundo Maya, é esse o papel do pai: proteger a mãe para ela estar bem e disponível para o bebê. Sugestão: traçar desde já um plano de ação sobre como lidar com essas questões quando elas aparecerem.

Planeje sua baby moon! Ela pode ser diferente, inclusive?

A ideia surgiu a partir da honeymoon (lua de mel): a babymoon (que seria uma "lua de bebê") é nada mais do que uma viagem do casal durante a gravidez, como uma forma de ter um momento de tranquilidade, relaxamento e celebração antes da chegada do bebê - e é uma ótima ideia, certo? Mas quando fazer? É simples. A gravidez é tradicionalmente dividida em três trimestres. No primeiro é mais comum ter sono e enjoos, o que pode atrapalhar a viagem e, por mais que não haja riscos para mãe ou feto, é mais comum esperar as primeiras 12 semanas, por ser um período delicado. "O segundo trimestre é a melhor fase pra viajar, porque normalmente já tem uma disposição melhor, o apetite está melhor e a barriga não está tão grande, porque depois no terceiro trimestre não é que não pode, mas já pode dar falta de ar, cansaço, dor nas costas pelo próprio peso da barriga", indica a ginecologista obstetra DeniseTheodosio.

E você pode ir de avião ou de carro, e dirigindo inclusive, só não esqueça do cinto de segurança, embaixo da barriga, em ambos os casos. Mas escolher a forma como você chega ao destino vem depois de pensar no destino - e uma dica é refletir sobre o objetivo da viagem. Quer descansar, ter um momento romântico a dois ou comprar peças de enxoval? "A lua de mel tem que ser algo que seja em comum ao casal. Campo? Praia? Verão? Inverno? Depois de definidas algumas premissas, dá para pensar no local. Mas antes também precisamos pensar no clima. A data que queremos fazer a lua de mel é propícia ao local. Está em dúvida entre dois locais? Vale a pena ver vídeos no TikTok ou mesmo no Google para tirar dúvidas e alinhar expectativas", orienta a especialista em eventos e viagens de celebração Tatiana Judice. Destino escolhido, é hora de correr atrás de passagem e documentação, especialmente se for precisar de visto.

Existem diversos blogs e sites de viagens com várias dicas excelentes, mas, se quiser algo completamente personalizado, vale a pena buscar agências especializadas em viagens para aquele local escolhido. "Não vale qualquer agência. Escolham uma que realmente conhecem o local de destino. Sobre hotéis, sempre aconselho a olhar em sites de viagens - tem excelentes dicas. Ideal buscar sites de pessoas que já moraram (ou moram) naquele local. Assim, você terá uma experiência mais local!", revela Tatiana. Vale a pena ainda buscar programas que conectem ainda mais o casal, de acordo com a personalidade e estilo dos dois. E tudo bem se não existe a possibilidade de sair por muitos dias ou se ausentar por 5 dias que seja: que tal planejar uma babymoon em um final de semana? "É fazer o que sente que dá, isso inclui orçamento e disposição. Um casal não precisa passar uma semana em Bali para relaxar e se curtir. Há boas opções de hotéis fazenda, retiros de ioga, meditação, hotéis com uma pegada mais tranquila. Não precisa ser necessariamente uma viagem longa para longe, pode ser até desgastante de acordo com o momento da gravidez. Acredito que cada casal deve fazer o que tem vontade", aconselha a terapeuta perinatal Patrícia Bressan.

Relacionamento não tá bom: separo agora ou depois do parto?

Está aí uma pergunta difícil para qualquer pessoa, mesmo um psicólogo responder. "A mulher fica muito mexida, ou por questões hormonais ou pelas transformações no corpo e ao seu redor, e os homens também ficam mexidos, afinal a vida dele também está se transformando. O ideal seria não mexer em nada para além disso que já está acontecendo e que é um turbilhão de mudanças. A princípio, eu falaria para esperar um pouco, para ver se o relacionamento não está em crise por essas transformações. Mas, como tudo na vida, é preciso olhar para o custo-benefício", avalia a psicóloga existencial Maria Silvia Logatto. O mais indicado é ter paciência, mas não deixar de olhar para a sua realidade: se o relacionamento estiver insustentável, te fazendo mal de verdade, a separação pode ser um caminho, mesmo antes do parto? Uma outra ideia é recorrer à astrologia, mas não ler seu horóscopo, e sim buscar uma especialista que trabalhe de forma séria. "A astrologia é muito mais profunda e útil nas nossas vidas do que imaginamos. É possível entender se é uma crise passageira ou não, a gente pode orientar para esperar até um período ou ver se vai melhorar", explica a astróloga Titi Vidal.

Tenho uma relação ruim com a minha mãe, vai ser igual com meu filho?

É comum ter esse receio, mas vamos nos libertar? Nossa história é escrita e reescrita diariamente e você tem o poder de escolha em suas mãos. É o que dizem duas especialistas, de áreas distintas inclusive. "As relações são construídas a partir de bases diferentes, embora com elementos em comum nas famílias. O fato da mulher já ter essa preocupação sinaliza que ela está consciente dos problemas relacionais com a mãe e portanto alerta a repetições de padrões", avalia a terapeuta perinatal Patrícia Bressan.

Você já deve saber, mas não custa recordar: cada relação é única, assim como cada vida é única. "É comum que a chegada dos filhos façam as mulheres se reencontrarem com a criança que foram e com as feridas da infância. Pode ser sofrido encará-las de frente, porém, este pode ser um momento muito rico de transformação." Uma das dicas para não repetir a relação que você teve com a sua própria mãe é estar atenta às demandas do seu filho e às suas próprias, evitando projeções e compensações. Além dessas estratégias essenciais para a construção de vínculos seguros e saudáveis com seu bebê ao longo da vida, caso ainda não faça acompanhamento psicoterápico, este momento pode ser ideal para começar.

Segundo a astróloga Titi Vidal, teoricamente, a informação sobre a relação com a nossa mãe está e nossa relação com nossos filhos está no mesmo lugar no nosso mapa astral, e a tendência natural é que a gente seja igual ou vá para o extremo oposto - mas não há uma regra. "Nosso mapa é o nosso destino, em termos de ser um leque de opções, mas a gente tem livre arbítrio de escolher dentro das opções. Posso explicar para uma mãe que tem a lua X como a mãe dela foi daquele jeito, mas que essa lua também traz outra possibilidade, e que ela pode fazer de outro jeito", diz.

Desentendimentos com o par: terapia de casal é uma boa?

Sempre, e se engana quem pensa que só por conta dos desentendimentos. Gestar um bebê é um momento transformador para todo o casal e, mesmo que não haja desentendimentos expressivos, essa pode ser a oportunidade para rearranjar a dinâmica em dupla antes da chegada de um "terceiro". Vá sem medo! Seja para algumas sessões pontuais ou para um acompanhamento mais longo, seu relacionamento agradece.

Envolva a família e amigos e saiba com quem contar desde já

É bom internalizar: será necessário ter uma rede de apoio, seja ela composta por familiares, amigos ou por pessoas que serão pagas para ajudar. Assim, "você estará minimamente preparada para cuidar do bebê e ele não precisa de muito mais do que você", explica a terapeuta perinatal Patrícia Bressan. Por isso, seu entorno deve ser minimamente tranquilo para que consiga exercer a maternidade de forma mais confortável e leve possível.

A verdade é que, muitas vezes, não temos quem faça por nós, e em outras tantas, esquecemos de olhar ao redor e pedir ajuda - antes mesmo de parir - mas esse é o momento ideal para treinar o pedido e a aceitação do suporte vindo de fora. "Comece a ter esse olhar, a pensar em quem você pode começar a acionar para ser sua rede de apoio?", sugere a especialista em Educação Positiva Maya Eigenmann. Segundo ela, não precisa colocar tudo na mão de familiares; você pode e deve contar com amigas em quem confia e até mesmo se permitir conhecer outras mulheres com quem pode trocar ajuda, ainda que seja apenas em formato de troca de desabafos ou recomendações de pediatras, babás, escolinhas? "Pela maneira como fomos educadas, muitas vezes nos sentimos desconfortáveis em pedir ajuda, achamos que temos que fazer tudo sozinhas, e acabamos entrando em um ciclo de muita solidão. Mas sua criança vai precisar de uma mãe nutrida emocionalmente", afirma Maya.

Portanto, liberte-se do lugar em que a gente mesmo se coloca, aquele em que parecemos multifunção, mas, na real, ficamos extenuadas. E, se a ajuda de familiares ou pessoas próximas começar a ser sinônimo de interferência (ao invés de proporcionar um ambiente seguro, de acolhimento e pessoas que se importam), vale a pena talvez pensar na terceirização paga da ajuda, tendo em mente que o mais importante é preservar o seu bem-estar e, consequentemente, o do seu filho. "O bebezinho está ali absorvendo todo esse cortisol, se essa mãe está estressada o tempo todo, o bebê está absorvendo", lembra a neuropedagoga Maya Eigenmann.

Discutindo a divisão de responsabilidades com o par

Nem de longe, a maternidade é um conto de fadas, e por que não falar abertamente sobre isso? Porém, ahhhh? como ela é deliciosa! O segredo para maternar com mais leveza é unanimidade entre os especialistas: rede de apoio. E nela precisamos colocar, em primeiro lugar, nosso par. Se você tem um, não hesite em chamá-lo para a roda. "Temos a mãe ou figura maternante e o pai ou um segundo adulto cuidador, e o papel dele é alimentar essa que está maternando, proteger essa pessoa que está cuidando para ela estar disponível", afirma Maya Eigenmann, especialista em Educação Positiva.

Nem sempre essa pessoa que está nesse papel entende sua importância, e está tudo bem, nada que não possa ser conversado desde já, e construído. "A conversa ao longo da gestação, entre o casal, favorece muito, não para o casal estar pronto, porque a experiência da chegada do bebê vai ser muito mais ampla do que podemos pensar. Mas refletir sobre isso antes é uma forma de ambos estarem mais flexíveis para o que fato irá chegar, e essa flexibilidade é o que vai permitir que eles estejam atentos ao que a realidade está demandando deles, orienta Arielle Rocha Nascimento. Uma boa ideia é fazer combinados, mas não se apegar a eles; isto é, vocês irão combinar algumas coisas e podem perceber que determinada regra não está funcionando. Portanto, conversem, flexibilizem, reorganizem a dinâmica familiar quantas vezes for preciso! Segundo a especialista, a chegada do bebê coloca à prova o laço que une o casal e a parceria que existe ali. "A comunicação é a possibilidade de transformar o estranhamento num novo arranjo, ainda que momentâneo."

SOS: quem vai cuidar da casa enquanto cuido do bebê?

Na dúvida se larga tudo e fica com seu bebê 24 horas por dia? Se sua realidade permitir isso profissionalmente, ótimo. Só esteja atenta para o retorno ao mercado de trabalho. "Lembre que o filho cresce e se você coloca sua vida em torno da maternidade, você fica muito vulnerável. Coloque uma data de fim para esse período e cumpra". O lembrete de Marina é muito importante, porque - sim - podemos ter vontade de jogar a carreira para o alto. Mas e a casa? Nem sempre é possível, afinal as roupas e as louças precisam ser lavadas em algum momento, o lixo retirado, a comida feita? Enfim, o ambiente precisa estar sem poeira e sujeira, para que o bebê e você habitem um ambiente saudável.

O par pode e deve ajudar, mas - cá entre nós - nem sempre essa divisão de tarefas domésticas funciona bem, muitas vezes o papai trabalha o dia todo ou não se dispõe a cozinhar. Claro, é uma (re)construção que precisa ser feita, dentro de casa, dentro do seu relacionamento? "O grande segredo é perceber onde estão os gatilhos do patriarcado no dia a dia, esse é o remédio. E essa consciência vem depois da maternidade", observa Marina.

Uma boa ideia é contar não só com a figura secundária na criação desse bebê, mas também e, talvez principalmente, com a mãe, irmã, cunhada, vizinha, melhor amiga. Mas não espere mágica! As pessoas irão até a sua casa para ver seu bebê e, naturalmente, tendem a focar nele! A dica é conversar, agora mesmo, com as pessoas que acredita que vai poder contar lá na frente, explicando que vai precisar de ajuda na organização da casa, para poder se entregar ao bebê; assim já saberá quem estará disposta a olhar com carinho para esse tipo de ajuda - que vai bem além de ninar seu recém-nascido. "Ser mãe é muito desafiador, ainda mais quando estamos sozinhos. É importante começar a ter esse olhar e pensar em quem poderá acionar para ser sua rede de apoio", recomenda Maya Eigenmann, expert em Educação Positiva.

Eu e meu par: quem faz o quê agora? E depois?

Parece besteira, mas seu parceiro (ou parceira) pode sim começar a fazer muitas coisas desde já, e não estamos falando aqui de cuidados com a casa! Um exemplo é proteger você se situações simples, porém incômodas, como quando as pessoas insistem em colocar a mão na sua barriga grávida e você não gosta. "Ele pode ficar com a mão na barriga, quase que colocando uma barreira para que as outras pessoas não encostem. Ou até nomeando, dizendo que ela não gosta muito de ser encostada, porque agora todo mundo fica encostando e ela não se sente muito confortável", explica Maya Eigenmann, pedagoga, educadora parental e escritora.

Lembre-se que nem sempre essa divisão de tarefas (que vão bem além da parte doméstica) é fácil e que, para torná-la menos árdua, não há recurso mais valioso do que o diálogo. "Foram 35 anos sem regulamentar a licença-paternidade, ninguém se interessou em colocar isso para a frente, e agora sim. Precisamos falar não só de maternidade, mas de paternidade responsável. É um machismo estrutural e é uma mudança cultural, mas gosto de pensar que estamos tratando desses temas, a redação do Enem de 2023 foi sobre a invisibilidade do trabalho feminino e o maior trabalho dela é o de cuidado. Esses temas estão sendo percebidos e tem muitos homens querendo melhorar. O homem que cuida tem outra relação com o filho", comenta a advogada Cláudia Abdul Ahad Securato.

Uma boa tática é sentar para expor sua vulnerabilidade, com transparência. A partir daí, faça um combinado sobre o que o par pode fazer e o que só você pode dar conta. Você pode ser a única que sabe exatamente o que falta na despensa por exemplo, mas ele pode ir ao mercado com a lista. Lembre que o papel dele é o de proteção - deixando a gestante tranquila e segura - e pequenos gestos podem servir de exemplo. Ainda na gestação, você pode dizer o que está te sobrecarregando e como ele poderia contribuir, assumindo algumas responsabilidades, como agendamento de exames, orçamentos e pagamentos e outras questões mais práticas - já que a gestante tende a se voltar para o abstrato e, de quebra, se concentrar menos no mundo concreto (lembra que ficamos mais esquecidas?). Só não se esqueça de traçar um plano de como ele poderá continuar assumindo algumas responsabilidades depois que o bebê nascer.

Livros, séries e filmes

Livro de cabeceira: Diário de um grávido - Um livro que conta, com humor sincero e apaixonado, como é a gravidez do ponto de vista masculino.

Série para desanuviar: Trying - Comédia para sorrir e deixar o coração quentinho. Sobre um casal que deseja um bebê, que não pode ter e, por isso, decide adotar.

Filme para colocar os pés para cima: Plano B - Com Jennifer Lopez no papel de Zoe, que está cansada de aguardar pelo homem certo, elabora um plano, faz inseminação artificial e é surpreendida com a possibilidade de um relacionamento.

Filme para colocar os pés para cima: Mais Uma Chance - Eles querem muito um filho, mas, aos 40 e tantos, não conseguem, e a chegada da sobrinha traz esperanças.

Série para desanuviar: Amigos da Faculdade - Traz à tona alguns conflitos interessantes para quem tem ou não filhos através do reencontro de amigos 20 anos depois da graduação, que descobrem que o amor não ficou mais fácil com a idade.

Série para desanuviar: Do Nada Grávida - Durante uma bebedeira, uma especialista em fertilização se insemina com o esperma do ex-namorado. Agora, ela precisa explicar a gravidez e dar um jeito na confusão.

Como é ter relacionamento aberto com filhos?

Você já deve ter ouvido falar de relacionamentos nos quais a exclusividade não é exigida. De abertas a não monogâmicas, as relações afetivas e sexuais podem ir bem além do que imaginamos e - sim - isso pode acontecer quando se tem filhos. Para os monogâmicos pode soar complexo, mas essa tem sido inclusive uma solução para casais que descobriram maiores desafios após a parentalidade.

Foi o que aconteceu com Belle Biajoni, 31 anos, mãe de duas meninas, em um relacionamento aberto com o pai delas há oito anos. Ambos moravam nos Estados Unidos quando a primogênita nasceu e surgiram problemas de convivência; quando a segunda filha veio ao mundo, na pandemia, tudo ficou mais intenso, e a transformação da relação acabou sendo natural. "Esse grande desafio de convivência nos fez começar a estudar outras formas de nos relacionar. Eu conheci grupos de estudos, e comecei a entender melhor que a gente não se encaixava no contexto de família tradicional. A gente tinha vontades que não cabiam nele. Estamos juntos, mas não como a sociedade quer", afirma.

Há quem sinta esse despertar na gestação, ainda que não coloque em prática de imediato. Welen Lima, 33 anos, começou a se sentir presa e solitária na gravidez, enfrentando problemas com o corpo e com a própria identidade como mulher. "Estava tentando me encontrar no meio daquele turbilhão de acontecimentos e mudanças. Precisava me reencontrar como ser humano e como mulher. A gravidez serviu para fortalecer essa ideia que eu tinha em mente, mas que nunca tinha tirado do plano teórico", conta.

Segundo a sexóloga Luciane Angelo, se o casal achar que deve abrir a relação, é o que deve ser feito, contanto que haja diálogo para proteger o aspecto emocional. Se a gestante não tinha uma relação fora dos padrões tradicionais, mas deu vontade de experimentar bem agora (ou depois de parir), o diálogo é novamente a melhor saída. "Em um primeiro momento de insegurança ou ansiedade, parem e conversem. Cada um sabe sobre seus limites e desejos. O importante é o casal estar de acordo com o formato da relação, seja ela qual for", sugere a sexóloga.

Sem parceria: quase 33% das mães solo são casadas ou vivem em união estável

Mãe solo é aquela que, como o nome prevê, está sozinha na criação dos filhos. Mas a bem da verdade é que, infelizmente, nem sempre ela está só de fato, ela pode ter uma parceria, mas não alguém que divide as tarefas de fato.

Se você está grávida, sozinha ou acompanhada - e se sente só nas responsabilidades, fica com a gente aqui para entender que essa é a realidade de muitas...

As mães solo compartilham desafios dos mais complexos e em média apontam sempre dois: a falta de apoio financeiro (presente na vida de 46% das mães solo) e a saga da organização da rotina com bebê/filhos (resposta de 39% delas). Os números que desnudam essa realidade foram obtidos em pesquisa feita por Universa, chamada de "Estudo Materna: o que pensam e querem as mães", realizada em dezembro de 2023 com mil mulheres e a metodologia de Mind Miners, plataforma especializada em Consumer Insights

Um terço da entrevistadas diz ser mãe solo, ou seja, mulheres que criam seus filhos sem um parceiro presente. E quanto mais jovens, mais sozinhas: 38,15% das mulheres entre 18 e 24 anos dizem viver a maternidade sem a companhia do par, enquanto entre 35 e 44 anos esse índice cai para 22,98%.

A diferença talvez possa ser explicada por relacionamentos mais longos ou pela chegada de um novo relacionamento, já que elas podem ter ajuda não apenas do genitor, mas de um outro par: entre os 35 e 44 anos apenas 21,74% são solteiras, separadas/divorciadas ou viúvas, já entre os 18 e 24 anos, o índice de solteiras, separadas/divorciadas ou viúvas sobe para 47,79%.

Outro resultado relevante encontrado é o de que 32,53% das mães solo são casadas ou vivem em união estável. Sim, elas estão em um relacionamento (muitas vezes com o pai de seus filhos), mas se percebem sozinhas em tarefas diárias que parecem não caber em vinte e quatro horas?

Preparar lancheira, agendar consulta médica, comparecer à reunião da escola, ler o recado que a professora enviou, conferir se o uniforme está lavado, comprar presente para a festa do amiguinho, preparar almoço, dar o jantar, ir ao mercado, controlar o tempo de tela, levar e buscar em atividades... Tudo isso, claro, dividindo espaço na agenda com compromissos pessoais e, muitas vezes, profissionais da mãe.

Entre os desafios na jornada solo, logo abaixo da questão financeira e da organização da rotina surgem:

  • dificuldades em relação a apoio emocional,
  • conciliação entre trabalho e maternidade
  • falta da rede de apoio

Sabia que rede de apoio não precisa ser só família?

Quando a mulher tem filhos ela passa a ser uma fonte inesgotável de amor, cuidado, atenção. Mas mães, gestantes e tentantes têm energia esgotável, exatamente por se dedicarem quase que integralmente para gerar e cuidar. Sentem falta de rede de apoio. Isso porque humanos evoluem em comunidade, funcionando no coletivo, não no individual

"Como sociedade, estamos em um movimento mais individualista, com famílias em núcleos. Não estamos mais em coletivo. Com a estrutura patriarcal e capitalista, a mulher ficou encarregada pela educação e pela criação da criança. Só que isso é completamente insustentável. Essa sobrecarga materna é consequência de uma sociedade completamente disfuncional", analisa

Maya Eigenmann, neuropedagoga e educadora parental.

Apoio, segundo o dicionário, é o que serve para amparar, firmar, sustentar (alguém ou algo); auxílio, amparo. Para mães, nem sempre ele vem do par, mas é possível vir do restante da família; mãe, sogra, avó, tia, irmã, cunhada. O importante é ter com quem contar, porque querer dar conta de tudo sozinha é tentar alcançar o inalcançável ou, minimamente, não ter tempo para si e acabar estressada.

Grávidas lideram a corrida por apoio: 40% apontam esse desafio antes de qualquer outro. A dica é pensar nele o quanto antes, e chegar no puerpério ou na primeira infância do filho com a rede alicerçada. E não precisa recorrer só a familiares. É possível criar laços de amizade seguros, intensos e íntimos com vizinhos e amigos, por exemplo.

Para a recém gestante ou a recém família na fila de espera da adoção, uma boa alternativa é outra rede, a internet: olhar grupos de pessoas que estejam na mesma situação e, quando encontrar perfis e comentários de alguém que demonstre estar vivendo algo semelhante, enviar uma mensagem para conversar. O espaço escolar também é ótimo para encontrar conexão com outros adultos que podem se tornar suporte para qualquer mãe. Ou os parquinhos, onde filhos brincam e mães podem puxar assunto e criar novas amizades. E para quem não encontrar sua rede de forma alguma, mas puder arcar com os custos, uma saída é a rede de apoio paga. Só não vale ficar sem suporte.